á 45 anos, o ABC disputou a elite do Campeonato Brasileiro e enfrentou as principais equipes do país, lotando o antigo Estádio Castelão, em Natal. No dia 13 de setembro de 1972, o Mais Querido enfrentou o São Paulo, em um espetáculo para quase 20 mil pagantes. Os cabelos grisalhos de Danilo Menezes revelam as histórias de uma época marcante para o Alvinegro. Um dos personagens daquele jogo, o ex-jogador uruguaio, radicado em Natal desde os anos de 70, foi coadjuvante diante da apresentação do compatriota Pedro Rocha, que sacudiu a defesa abecedista e marcou dois dos três gols do Tricolor naquela vitória por 3 a 0. Nesta quarta-feira, as equipes voltam a se encontrar na capital potiguar, em duelo pela terceira fase da Copa do Brasil, no Frasqueirão. O jogo começa às 19h30.
Mesmo com a formação base do tetracampeonato do Campeonato Potiguar, conquistado entre os anos de 1970 a 1973, o ABC não suportou a pressão do adversário paulista e perdeu em casa. Apesar da derrota, Danilo Menezes recorda que todos os jogadores alvinegros foram aplaudidos após o jogo, como uma forma de reconhecimento da torcida pela bravura e dedicação ofertadas pelo time em campo. Aos 72 anos, o ex-jogador revela um ar saudosista ao falar do clube que defendeu e, emocionado, cita os nomes dos antigos companheiros em campo.
- Daquele time (em 1972), nós tínhamos excelentes nomes. O meio-campo era formado por mim, Maranhão e Alberi. Atrás na zaga, nós tínhamos o nosso capitão Edson; Fidélis na lateral direita, com Anchieta jogando algumas vezes também na lateral; Libânio na ponta direita; Petinha era o centroavante; e na ponta esquerda o Soares, que foi o primeiro jogador que criou a pedalada em um jogo oficial. Esses jogadores faziam um bom espetáculo e que a torcida sempre pedia, por isso nós fomos bem sucedidos. Eu tenho saudade daquela época (Castelão e Machadão), porque todos os clubes tinham os seus craques. Só jogavam craque contra craque, e o espetáculo era melhor, tinha mais profissionalismo. Se ganhava dinheiro, não na proporção de hoje em dia, mas o espetáculo que era o desejo de todos, sempre aparecia - conta Danilo Menezes ao GloboEsporte.com.
O ABC participou do Campeonato Brasileiro ao lado de outros 25 clubes. Único representante do Rio Grande do Norte naquela edição nacional, o Mais Querido realizou uma campanha irregular, com 13 derrotas, sete empates e apenas cinco vitórias, e não avançou à segunda fase da competição, terminando na 24ª posição, com 15 pontos. O confronto contra o São Paulo aconteceu na segunda rodada do torneio, com uma grande expectativa da torcida potiguar que, segundo Danilo Menezes, "apadrinhou" os jogadores durante- Foi um jogo muito difícil, que encheu os olhos da nossa torcida por ser contra um grande equipe e que nós esperávamos ter uma facilidade maior, por jogarmos em casa (à época, no antigo Estádio Castelão). Nós esperávamos a vitória, mas infelizmente o time do São Paulo tinha um jogador que também era uruguaio como eu e desequilibrava em campo, que era o Pedro Rocha. O São Paulo ganhou o jogo, mas o nosso time saiu de campo aplaudido, porque a torcida gostou do espetáculo e nós tínhamos a obrigação de fazer muito mais do que uma uma boa apresentação. O nosso plantel era bom e fazia com que a nossa torcida apadrinhasse de uma forma bonita o nosso futebol - lembra o ex-jogador do ABC.
Ficha do jogo:
ABC 0 x 3 São Paulo
13 de setembro de 1972 (no antigo Estádio Castelão, em Natal)
Gols: Pedro Rocha (2) e Paulo
Público: 19.155 pagantes
Renda: Cr$ 72.806,00
ABC: Tião; Preta, Edson, Nilson, Anchieta; Danilo Menezes, Maranhão (Gonzaga), Libânio; Alberi, Soares, Williams (Jaílson). Técnico: Célio de Souza
São Paulo: Vanderlei; Forlán, Arlindo, Samuel, Gilberto; Édson Cegonha, Pedro Rocha (Teodoro), Toninho Guerreiro (Zé Carlos), Paraná; Paulo, Terto. Técnico: Vail Mota
Fonte: Marcos Trindade
Com o favoritismo voltado para o São Paulo, restava ao ABC impor o toque de bola no Castelão, ao qual era habituado a jogar. Apesar das tentativas de Danilo Menezes e Alberi, o Tricolor mostrou superioridade e com a técnica de Pedro Rocha conseguiu a vitória com tranquilidade. Com a ciência de que eram azarões contra o adversário paulista, os jogadores alvinegros buscaram dar o espetáculo pedido pela própria torcida. Danilo Menezes recorda que o plantel construído pelo ABC era um dos melhores da região Nordeste, mas não foi capaz de ultrapassar a barreira tricolor.
- Mesmo sabendo que o São Paulo era o favorito, nós entramos em campo sabendo que éramos franco atiradores. Nossa obrigação mesmo não era a vitória, mas era dar um bom espetáculo para a nossa torcida. O ABC formou um plantel muito bom e fez com que nós sonhássemos com a vitória. Tivemos vitórias naquela competição com times do mesmo porte e o máximo que fizemos foi conquistar um empate com o Flamengo, em 0 a 0. O ABC vinha de um tricampeonato estadual e estava estreando o Machadão. Isso fez com que o nosso futebol crescesse e os nossos clubes fossem obrigados a fazer grandes contratações. Mas não tínhamos um time para bater o São Paulo, porque era uma força gigantesca. Podemos considerar o São Paulo de hoje tão grande como o daquela época, com grandes jogadores e peças importantes - apontou Danilo.
Frasqueirão: talismã para a virada
A missão do ABC contra o São Paulo é complicada por ter perdido o jogo da ida por 3 a 1. Precisa vencer por 2 a 0 para se garantir na quarta fase. Caso o Tricolor marque algum gol no Frasqueirão, o Mais Querido será forçado a marcar três gols de diferença para avançar. Se o placar for devolvido, a decisão será nos pênaltis. Com dificuldades para armar a equipe, devido à presença de alguns atletas no departamento médico, o técnico Geninho se apega a uma marca como mandante. Há um ano, o ABC não perde no Estádio Frasqueirão.
ABC não perde no Frasqueirão há um ano e será o "talismã" contra o São Paulo (Foto: Alexandre Lago/GloboEsporte.com)
A última derrota do Alvinegro em casa aconteceu no dia 10 de março de 2016, quando foi derrotado pelo Salgueiro por 2 a 1, em jogo válido pela quinta rodada da Copa do Nordeste. Ao todo, são 24 partidas no Frasqueirão, sendo 17 vitórias e sete empates. Para o ídolo Danilo Menezes, a fama de "talismã" do Frasqueirão pode ser um trunfo para ajudar o Alvinegro contra o ataque tricolor.
- Dá para acreditar (em uma vitória). O São Paulo é uma grande equipe, que ainda está em formação, tem vários jogadores de muita categoria, mas podemos surpreender porque vamos jogar no nosso campo, o Frasqueirão, e isso pode desequilibrar o adversário com a torcida toda em cima dele. Com essa euforia toda, o ABC pode crescer, os espaços podem ser melhores para o nosso time e o São Paulo vai ter grande trabalho em conseguir a vitória aqui em Natal - completou.
Danilo Menezes veste camisa comemorativa do ABC do ano de 1972 (Foto: Jocaff Souza/GloboEsporte.com).