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A solidão te fez aceitar pouco demais?
Por Izabelly Mendes
Publicado em 16/06/2025 09:50
Comportamento

A solidão, por vezes, é uma companhia silenciosa, mas poderosa. Ela se instala nas entrelinhas do cotidiano, no vazio da casa, nas mensagens que não chegam, nos convites que não vêm. E quando se prolonga, pode transformar-se em um estado tão familiar que deixa de ser notado, mas começa a ditar escolhas. Uma dessas escolhas, talvez a mais comum e dolorosa, é aceitar menos do que merecemos.

Quantas vezes você já se perguntou se está realmente feliz onde está ou apenas com medo de voltar para o vazio? A carência afetiva, somada à solidão prolongada, pode criar a ilusão de que qualquer migalha de atenção é um banquete. A pessoa se acostuma a ser tratada com descaso, a estar em relações que não evoluem, a receber menos do que oferece, tudo para evitar encarar a ausência de alguém.

Mas o problema é que a solidão, quando não compreendida e ressignificada, pode se tornar uma armadilha. Ela sussurra que você não é suficiente, que ninguém virá, que precisa aceitar o que aparecer — mesmo que doa, mesmo que humilhe. E é nesse ponto que começamos a perder o senso de merecimento.

Relacionamentos são construções. Mas quando a base é o medo da solidão, a estrutura fica frágil. Passamos a tolerar atitudes que vão contra nossos valores, a perdoar repetidamente erros que machucam, a insistir em vínculos que drenam nossa energia. Tudo isso para não ter que lidar com o silêncio que vem depois do fim.

É preciso coragem para entender que estar só não é o mesmo que ser solitário. A solitude pode ser um espaço de reencontro consigo mesmo, de cura, de aprendizado. É nela que se aprende a se amar o suficiente para não aceitar menos. Quando nos conhecemos profundamente, quando nos damos o carinho que esperamos do outro, a solidão deixa de doer e começa a fortalecer.

Aceitar pouco não é humildade, é descuido. É permitir que a dor de não ter alguém fale mais alto do que o amor-próprio. É deixar que a ausência de companhia nos convença de que qualquer presença serve. Mas a verdade é que merecemos mais. Mereço um amor que soma, que respeita, que se compromete. E para viver esse amor, é preciso estar disposto a escolher a própria companhia até que o outro certo chegue.

Muitas pessoas permanecem em relações vazias com medo do vazio de estar só. Mas o que elas não percebem é que a pior solidão é estar acompanhado e ainda assim se sentir só. Isso sim é doloroso. Isso sim devasta a autoestima. Quando você olha para o lado e não encontra apoio, quando suas dores são ignoradas, quando o afeto que você oferece não volta — isso sim deveria te assustar.

A solidão pode, sim, nos ensinar muito. Pode nos mostrar que não precisamos aceitar pouco só porque estamos com medo. Pode nos fazer perceber que estar só é melhor do que mal acompanhado. E, mais do que isso, pode nos preparar para quando o amor de verdade chegar. Um amor que não se alimenta da ausência, mas da presença sincera.

Se você se identificou com esse cenário, talvez seja hora de se questionar: por que você está aceitando tão pouco? Você está com essa pessoa porque a ama ou porque tem medo de não ter mais ninguém? Você realmente acredita que merece esse pouco que recebe ou só se esqueceu de tudo o que vale?

A resposta para essas perguntas pode ser desconfortável, mas também libertadora. É preciso ter coragem para encarar a solidão, mas é preciso ainda mais coragem para sair dela e decidir que, daqui para frente, só aceitará o que te valoriza.

Você não nasceu para ser plano de fundo na vida de ninguém. Você não foi feito para viver de sobras, nem de promessas vazias. Existe amor no mundo — mas ele começa em você. Começa quando você decide que não vai mais se diminuir para caber no pouco que te oferecem. Quando você entende que estar só, por um tempo, é o preço justo a se pagar por não mais aceitar migalhas.     photoacompanhantes

Portanto, se a solidão te fez aceitar pouco demais, que o autoconhecimento te faça recusar tudo o que não for inteiro. Que você aprenda, a cada dia, a se bastar. E, quando o amor chegar, que ele encontre você completo — não carente, não em pedaços —, mas inteiro, forte e com a certeza de que nunca mais aceitará menos do que merece.

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